Dossiê denuncia 273 mortes e violências de pessoas LGBT em 2022

O Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil denuncia que durante o ano de 2022 ocorreram 273 mortes LGBT de forma violenta no país. Dessas mortes 228 foram assassinatos, 30 suicídios e 15 outras causas.

Este material é resultado de um esforço coletivo de produção e sistematização de dados sobre a violência e a violação de direitos LGBTI+. Aqui a sigla fala sobre pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero.

O documento divulgado aqui é produzido por meio do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, que teve seu início em janeiro de 2020, quando foi coordenado pela Acontece – Arte e Política LGBTI+ e pelo GGB – Grupo Gay da Bahia.

Desde outubro de 2021, a Acontece Arte e Política LGBTI+ estabeleceu parceria com a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais e a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, a fim de acrescentar e somar na elaboração deste Dossiê.

O trabalho foi realizado por meio de uma base de dados compartilhada entre essas três instituições, que contém os registros dos casos ocorridos, encontrados em notícias de jornais, portais eletrônicos e redes sociais.

Continue a leitura para saber os principais dados de mortes lgbt divulgados no dossiê! Ou se preferir você pode ir direto fazer o download do dossiê de 2022 completo.

O Brasil assassinou um LGBT a cada 32 horas em 2022

Em 2020, o total de mortes LGBT I+ registradas pelo observatório foi de 237, em 2021 foi de 316, e em 2022, foram 273 casos de crimes de ódio.

Mas é importante ressaltar que, apesar desse número já representar a grande perda de pessoas, apenas por sua identidade de gênero e/ou orientação sexual, temos indícios para presumir que esses dados ainda são subnotificados no Brasil.

Afinal, a ausência de dados governamentais e a utilização de informações disponíveis na mídia apontam para uma limitação metodológica de nossa pesquisa.

Como dependemos do reconhecimento da identidade de gênero e da orientação sexual das vítimas por parte dos veículos de comunicação que reportam as mortes, é possível que muitos casos de violências praticadas contra pessoas LGBTI+ sejam omitidos.

Quais são as formas de violência LGBT mais reportadas no estudo?

A pesquisa de 2022 identificou diversos tipos de violência LGBT, como agressões físicas e verbais, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. Houve uma maioria de mortes lgbt provocadas por terceiros: 228 homicídios, representando 83,52% do total, 30 suicídios, que corresponderam a 10,99% dos casos e outras 15 mortes, 5,49% dos casos.

Além disso, alguns destaques dos dados divulgados pelo dossiê, são:

  • 159 travestis e mulheres trans mortas
  • 97 gays mortos
  • 91 vítimas pretas e pardas, 94 brancas
  • 91 vítimas entre 20 a 29 anos
  • 74 mortes por arma de fogo
  • 48 mortes por esfaqueamento, 
  • 130 mortes em período noturno
  • 18 suicídios por pessoas trans
  • 118 mortes no Nordeste e 71 no Sudeste

Todas essas violências contra LGBTI+ foram perpetradas em diferentes ambientes – doméstico, via pública, cárcere, local de trabalho etc.

Porém, é importante ressaltar também que houve um número significativo de suicídios, com 30 casos registrados (10,99%). Mais uma evidencia dos danos causados pela LGBTIfobia estrutural na saúde mental das pessoas.

Quantas mortes LGBT I+ acontecem por dia no Brasil?

Em 2022, o Brasil assassinou um LGBT I+ a cada 32 horas. E o cenário geral de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero pouco mudou em relação a medidas efetivas de enfrentamento da LGBTIfobia por parte do Estado.

Portanto, mesmo em um cenário onde alcançamos conquistas consideráveis junto ao poder judiciário, percebemos a recorrente inércia do legislativo e do executivo ao se omitirem diante da LGBTIfobia, que segue acumulando vítimas e que permanece enraizada no Estado e em toda a sociedade.

O que os LGBT sofrem?

Apenas por serem LGBTI+s, 273 pessoas morreram em 2022. Além disso, a taxa de empregabilidade é menor para LGBTI+s em relação a cis-heterossexuais e a probabilidade de estigmatização, humilhação e discriminação é maior em serviços de saúde.

Por isso, os LGBT’s sofrem sendo uma comunidade mais vulnerável a violências e negativas de Direitos Fundamentais, como a própria vida.

Quais estados brasileiros mais matam LGBT?

Dentre os estados com o maior número de vítimas, Ceará aparece no topo do levantamento, com 34 mortes; seguido por São Paulo, com 28 mortes; e Pernambuco, com 19 mortes. Entretanto, se considerado o número de vítimas por milhão de habitantes, o ranking da violência LGBTIfóbica é liderado por Ceará, com 3,80 mortes; Alagoas, com 3,52 mortes e Amazonas, com 3,29 mortes. Confira a seguir o número de vítimas por unidade da federação em 2022. 

Mortes de LGBT em 2023

A novidade deste ano, é que adiantamos os dados parciais de 2023, dos meses entre janeiro e abril, totalizando 80 mortes. Até o presente momento, a população de travestis e mulheres trans, representou 62,50% do total de mortes (50); os gays representaram 32,50% dos casos (26 mortes); homens trans e pessoas transmasculinas, 2,50% dos casos (2 mortes); mulheres lésbicas correspondem a 2,50% das mortes (2 mortes); nenhum caso contra pessoas bissexuais e as pessoas identificadas como outros segmentos foram identificados.

O contexto histórico dos casos de transfobia e homofobia no Brasil

A população brasileira LGBTI+ tem sido vitimada por diferentes formas de mortes violentas desde a colonização do país, mesmo antes das denominações atuais de sexualidade e gênero.

Em função da LGBTIfobia estrutural, essas pessoas são colocadas em situação de vulnerabilidade por não se enquadrarem em um padrão socialmente referenciado na heteronormatividade, na binariedade e na cisnormatividade.

O Brasil se constitui como um país extremamente inseguro para essa população e com uma tendência de crescimento, nas últimas duas décadas, no número de mortes violentas de LGBTI+.

É importante constar que esse aumento no número de mortes lgbt está atrelado à articulação e atenção que o movimento LGBTI+ tem dado a tal demanda, já que a violência sempre ocorreu historicamente, mas não se tinha um esforço de mensurá-la e combatê-la.

Entre 2000 e 2022, 5.635 (cinco mil e sdeiscentas e trinta e cinco) pessoas morreram em função do preconceito e da intolerância de parte da população e devido ao descaso das autoridades responsáveis pela efetivação de políticas públicas capazes de conter os casos de violência.

Em relação à comunidade trans, o Dossiê ANTRA de 2022 denuncia o violento contexto social no qual as travestis, mulheres, homens trans e pessoas não binárias estão inseridas. Essa afirmação é fruto do preconceito e discriminação que promove um processo de exclusão social de nossa população.

Todas estas violações de direitos humanos citadas aqui e nos dossiês das organizações envolvem circunstâncias que levam a uma vulnerabilidade, sobretudo, psicológica que compromete nossa saúde mental podendo levar ao suicídio.

O Estado não tem sido apenas omisso, mas, também, é agente direto de diversas violações e violências contra pessoas trans.

Diversos ataques organizados pela aliança entre grupos historicamente LGBTIfóbicos, políticos de extrema direitas, milícias paramilitares e grupos neonazistas que ganharam força desde a eleição do atual governo, líderes religiosos fundamentalistas, diversos grupos que compõem as redes bolsonaristas.

Além de grupos de Lésbicas, Gays e Bissexuais cisgêneros antitrans e do feminismo radical trans excludente em se mobilizado em torno de construir, fortalecer e disseminar narrativas antitrans que incitam o ódio, o medo e a desumanização de travestis e demais pessoas trans.

A dificuldade em coletar dados de mortes LGBT I+ no Brasil

A elaboração do Dossiê de Mortes e Violências contra a População LGBTI+ tem como principal desafio a ausência de dados governamentais.

Afinal, nossas fontes não têm como base os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já que este não produz quaisquer dados sobre pessoas LGBTI+, do Ministério da Saúde ou de qualquer outra instância governamental.

Não podemos deixar de pontuar que, em muitas notícias analisadas, a disponibilidade de informações foi limitada e, consequentemente, inviabilizou uma análise mais detalhada desses casos específicos

A fim de reduzir essas lacunas, buscamos fontes complementares e alternativas, como consulta em ferramentas online de pesquisa e em perfis nas redes sociais, ainda que muitos casos tenham ficado sem esclarecimento.

Para que nossa metodologia avance e os dados se tornem ainda mais acurados, demandamos de uma extensa equipe trabalhando em território nacional. Com o objetivo de manter nossos colaboradores e de assegurar a continuidade dessa iniciativa, pedimos para que você se junte a nós

A violência não pode matar nossa vontade de fazer o que é CERTO!

 Qual é o país mais homofóbico do mundo?

O Brasil é o país com mais mortes LGBTI+ no mundo. Isso é apontado pela quantidade de crimes e mortes contra LGBTI+, compilados no acervo do Observatório Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, quando comparado a outros países.

Em termos de criminalização das relações afetivas da comunidade LGBTI+, 13 países têm pena de morte: Sudão, Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Mauritânia, Afeganistão, Paquistão, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iraque, partes da Síria, partes da Nigéria e partes da Somália.

O que é ser uma pessoa homofóbica?

Uma pessoa homofóbica sente aversão e/ou ódio de LGBTI+s e acredita na inferioridade dessas em relação a pessoas heterossexuais, seja por convicção religiosa, cultural ou política. Homofóbicos geralmente propagam a exclusão e a violência de LGBTI+s, seja em “piadas” ou até assassinando-os.

 Homofobia é crime?

Julgada no STF em 2019, homofobia configura crime, tal como o racismo. A pena pode variar entre 1 a 5 anos, dependendo do ato homofóbico, além de multa.

É crime ser LGBT no Brasil?

Não, no Brasil é LEGAL ser LGBTI+ e nunca houve qualquer lei que criminalizasse relações afetivas da comunidade LGBTI+. O que é crime no Brasil, desde 2019, é a LGBTIfobia, caracterizada pelo preconceito contra identidades de gênero e orientações sexuais.

Como combater ativamente a LGBTfobia?

Com o número de mortes LGBT no brasil aumentando a cada ano, somado ao triste cenário histórico e político, devemos encontrar estratégias individuais e coletivas para combater ativamente e efetivamente o cenário de LGBTfobia no Brasil.

Para incentivar que todos sejam ativos nessa luta, listamos a seguir algumas dicas de ações: 

Vote com consciência 

Escolha e acompanhe o trabalho de candidatos e políticos que defendem as causas lgbti+ e incluem em seus projetos e planos de governo pautas de defesa e garantia dos direitos da comunidade lgbti+.  

Mobilize Políticas Públicas

As políticas públicas são um fator essencial para garantir a melhoria na prestação de serviços públicos para a comunidade lgbti+. Essas políticas auxiliam, por exemplo, no aumento da empregabilidade, na capacitação de profissionais da saúde e na criação da delegacia especializada a grupos vulneráveis. 

Denuncie as violências e mortes 

Ajude as organizações na quantificação e qualificação dos dados para planejamento e execução das políticas públicas. Procure principalmente por canais municipais, estaduais e federais que recebem essas denúncias, além de conselhos de Direitos Humanos.

Temos nosso próprio Canal de Denúncia contra LGBTfobia e também recomendamos algumas plataformas, como por exemplo: Disque 100, Aplicativo Rugido.

Apoie Artistas e Figuras públicas da Comunidade LGBTI+

Se você está perdide sobre referências, aqui estão alguns artistas pra você começar suas descobertas.

Liniker | As Baías | Linn da Quebrada | Mahmundi

Ludmilla | MCTha | Jaloo | Jhonny Hooker

Acompanhe canais de conteúdo sobre pessoas LGBTI+

Aborda temas sociais e políticas por meio do humor e arte. E aposta na educação como ferramenta de emancipação e trabalhamos em união por mais e melhores acessos.

Busca “Injetar ódio no cérebro do conformado, informação no desinformado e autoestima no derrotado”, ao inspirar-se na Facção Central.

Mestre em literatura, aborda temas como LGBTfobia, lesbianidade, vegetarianismo entre outros. 

Mulher negra e pansexual, Nátaly discute diversos temas em seu canal, desde 2015, como  veganismo e sustentabilidade, sempre interseccionando os temas com raça, classe, gênero e sexualidade. 

Canal que dá vez e voz à mulher negra, é comentado por duas mulheres negras, Maristela e Natália. Aborda diversos temas como cultura pop, cotidiano, beleza e sociedade, considerando sempre a Representatividade!

Importância do trabalho de organizações como a Acontece LGBTI+ para mudar esse cenário

Por este triste cenário, que iniciativas como o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ são fundamentais.

Afinal, os dados públicos dão condições para a construção de políticas públicas baseadas em evidências, prestando-se a dimensionar ou denunciar para a população e ao Estado, as iniquidades sociais, além de serem base da avaliação dos efeitos da política aplicada.

 A Acontece LGBTI+ atua não só na coleta desses dados, como também se mobiliza para a construção, planejamento e implementação dessas políticas públicas, visando a garantia do acesso desta comunidade a seus Direitos Humanos.

Confira abaixo o dossiê completo de mortes e violências contra LGBTI+ no Brasil em 2022
>Para baixar o Dossiê 2022 e receber atualizações do Observatório, preencha:

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